No Andes cambiando de cueva.
Hacé las que hace el ratón:
conserváte em el rincónem
que empesó tu esistencia:
vaca que cambia querências
e atrasa em la parición.
Foi dessa forma que
José Hernádez se expressou no épico Martín Fierro, ao tratar de gente que não
fixa lugar e que anda pra cá e pra lá achando que na casa dos outros a comida é
melhor, sem “vestir uma camisa”.
Os CTGs são clubes que
congregam pessoas e constroem suas histórias criando um ambiente em que cada
associado se sente “dono” e defende a entidade. De alguma forma cada dirigente
de CTG procura aprofundar o espírito de “amor à camiseta”, ou seja, o espírito
de luta e desprendimento que faz de cada associado um soldado daquela casa.
Esse espírito de apego ao
CTG é estimulado e internamente elogiado com frequência, não para desmerecer
aos outros, mas para fortalecer a si. Com frequência vemos tradicionalistas
afirmando: “eu sou .... (o nome do CTG)”. Assim como é comum ouvirmos pessoas
se vangloriando e demonstrando orgulho de serem fundadores ou de estar a tantos
anos no CTG tal.
Temos no nosso meio dois
fenômenos que contrastam com tudo isso, ou seja, duas situações específicas que
contrariam essa lógica de “vestir a camisa” ou de defender a “sua casa”, uma na
área artística e outra na atividade campeira.
No meio artístico nos
deparamos com os “instrutores de danças” e com os “musicais” que deixaram, na
sua grande maioria, de representar uma entidade. Eles não têm mais o espírito
de representação de uma bandeira. Defendem, ou melhor, utilizam várias
bandeiras. Acredito que todos eles tentem fazer o melhor em cada CTG que
trabalham, geralmente mediante remuneração. Não tenho certeza se conseguem
manter o mesmo desempenho, mesmo que digam sempre: “sou profissional”. A
contradição está tanto nessa questão de trabalhar para vários CTGs, quanto na
questão do profissionalismo. Eu imagino como seria se um treinador de futebol
treinasse vários times que participam do mesmo campeonato. Ou um atleta que
jogasse por vários times. Será que o profissionalismo resolveria essa questão?
Na área campeira temos um
fenômeno um pouco diferente. Há a troca de entidade e a formação de grupos com
o fim específico de ganhar mais provas e acumular mais prêmios em dinheiro, mas
aqui me refiro aos laçadores que resolveram “cambiar de cueva”. Me parece que
são pessoas que só querem diversão, jogo e ganho de dinheiro. Não há a mínima
preocupação com a preservação da tradição ou com o fortalecimento das entidades
tradicionalistas que são os esteios da preservação das tradições.
As duas situações devem ser
analisadas com cuidado. No primeiro, devemos verificar se há alternativas que
mudem ou que façam retornar à situação dos anos 90. Sempre com o devido cuidado
para não destruir tudo aquilo que há de bom e bonito na atividade artística. No
segundo caso, devemos decidir se aceitamos os “cambiadores” que desejam ter
morada em duas casas diferentes e que ficam especulando, a cada dia, qual casa
oferece melhor prato à mesa.
Como arremate dessa reflexão
vale lembrar os versos de mesmo José Hernández, ainda em Martín Fierro:
“A naides tengás envidia;
es muy triste el
envidiar;
cuando veás a outro
ganar;
a estorbarlo no te
metas:
cada lechón em su
tetaes
el modo de mamar”.
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