O domínio do fogo
A partir do domínio do fogo, o
cérebro humano desenvolveu-se muito rapidamente, proporcionando um salto
qualitativo na nossa vida. A sociedade humana, como a conhecemos, acredita-se
que se estruturou a partir do momento em que o homem passou a dominar o fogo,
pois este permitiu inúmeros avanços, dentre os quais, que os grupos familiares
estivessem ativos durante a noite, o preparo de alimentos e bebidas, também foi
usado em caçadas e para afugentar animais e grupos rivais. Mas um ponto
fundamental foi seu uso na agricultura e pecuária, servindo para limpeza de
áreas (sistema de coivara) e foi amplamente empregado na fundição de metais.
O simbolismo do fogo
São inúmeros os registros que
mostram a importância do fogo na vida do homem. É um elemento que consome,
aquece, ilumina, mas também pode trazer morte e dor, e por isso, seu simbolismo
pode variar muito dependendo do contexto em que ele é usado.
O fogo é um dos quatro elementos da
natureza (água, terra, fogo e ar) e que o ser humano pode produzir, fazendo uma
conexão entre os homens e Deuses. A maioria dos rituais, ao longo da história,
envolve uma chama eterna, e acender um fogo é equiparado com o nascimento e
ressurreição. É um princípio criador por excelência, símbolo da energia vital,
da purificação, da espiritualidade, do entusiasmo e do ardor.
A chama Crioula – Momento sociopolítico
O Brasil, no final dos anos 40,
do século XX, estava saindo da ditadura da chamada “Era Getúlio Vargas”, que
havia calado a imprensa, que prejudicava o desenvolvimento e prática das
culturas regionais. Com isso, perdeu-se o sentimento de culto à regionalidade.
As raízes regionais estavam em processo de esquecimento, adormecidas, reflexo
da proibição de demonstrações de valores de cada um dos estados. Bandeiras e hinos
dos estados foram, simbolicamente, queimados em cerimônia no Rio de Janeiro e,
diante de tudo isso, os gaúchos estavam acomodados àquela situação, apáticos e
sem iniciativa.
Liderados pelo jovem João Carlos
D’Avila Paixão Cortes, jovens estudantes do Colégio Júlio de Castilhos, criam
um departamento de tradições gaúchas, que tinha a finalidade de preservar as
tradições e o campeirismo do estado, mas também desenvolver e proporcionar uma
revitalização da cultura rio-grandense, interligando-se e valorizando-a no
contexto da cultura brasileira.
Dentro deste espírito é que surge
a criação da Ronda Crioula, que foi do dia 7, com a extinção da pira da pátria,
até o dia 20 de setembro, as datas mais significativas para os gaúchos.
Paixão solicitou a Liga de Defesa
Nacional para fazer a retirada de uma centelha do "Fogo Simbólico da
Pátria" para transformá-la em "Chama Crioula", como símbolo da
união indissolúvel do Rio Grande à Pátria Mãe, e do desejo de que a mesma
aquecesse o coração de todos os gaúchos e brasileiros, até o dia 20 de
setembro, data magna estadual. Nessa oportunidade, Paixão recebeu o convite
para montar uma guarda de honra ao general farrapo, David Canabarro, que seria
transladado de Santana do Livramento para Porto Alegre. Então, Paixão reuniu um
piquete de oito gaúchos bem pilchados e, no dia 5 de setembro de 1947,
prestaram a homenagem a Canabarro.
O Grupo dos Oito
O piquete que transladou os
restos mortais de Davi Canabarro ficou conhecido como o “Grupo dos Oito”, ou
“Piquete da Tradição”. Era formado por Antonio João de Sá Siqueira, Fernando
Machado Vieira, João Machado Vieira, Cilso Araújo Campos, Ciro Dias da Costa,
Orlando Jorge Degrazzia, Cyro Dutra Ferreira e João Carlos Paixão Cortes, seu
líder.
A Chama Crioula – acesa pela primeira vez no dia 07/09/1947
A “Chama Crioula” representa,
para o gaúcho e o tradicionalista, a história, a tradição, a alma da sociedade
gaúcha, construída ao longo de pouco mais de três séculos. Em torno dela
construímos um ambiente de reverência ao passado, de culto aos feitos e fatos
que nos orgulham, de reflexão sobre a sociedade que somos e a que queremos ser.
Como um símbolo que une nosso
estado, ela estará presente em todos os galpões, todos os acampamentos, todas
as manifestações de amor à tradição, ardendo no candeeiro, sempre carregada de
a cavalo por homens e mulheres que sabem o que fazem e o que querem.
O acendimento oficial da chama do estado
Nas comemorações do
sesquicentenário da Revolução Farroupilha, um olhar diferenciado surge sobre a
epopeia, novos escritos, acontecimentos e um novo reconhecimento. No inicio, os
festejos duravam em torno de 13 dias (de 7 à 20/09), depois, por lei, ficou em
7. Atualmente, em Porto Alegre, o Parque da Harmonia recebe seus acampados
desde o final do mês de agosto, mas é a partir do dia 7 de setembro, com o ato
histórico de Paixão Cortes e o piquete da tradição, que abrem oficialmente as
comemorações na capital. As atividades oficiais, pela lei, e no interior do
estado, continuam acontecendo à partir do dia 14.
Muitos lugares já têm em seu
imaginário que as comemorações estão acontecendo desde o momento em que é acesa
a chama oficial do estrado em um sítio histórico pelo Rio Grande do Sul. Esse
evento acontece sempre no final de semana mais próximo do dia 24 de agosto,
data que marca o suicídio do presidente Getulio Vargas. Em 1999 o acendimento
da Chama Crioula foi realizado em Pelotas, em uma homenagem ao centenário da
União Gaúcha Simões Lopes Neto. Em 2000 o acendimento ocorreu em Alegrete, na
“Capela Queimada”. Os dois eventos foram prestigiados pela direção do MTG, mas
tiveram muita pouca participação das coordenadorias regionais. Foram eventos
locais, sem grandes repercussões na mídia.
O acendimento da chama crioula se
transformou em um grande evento à partir de 2001, em Guaíba, em frente a casa
de Gomes Jardim, com participação das 30 RTs. Neste ano de 2014, a cidade
escolhida, no congresso tradicionalista, para receber o Rio Grande e gerar a
chama, foi Cruz Alta – “Terra de Erico Veríssimo”.
A busca, o translado e a guarda da Chama
Um velho ditado diz: “A união faz a força”. A busca da chama
nos sítios históricos, espalhados pelo Rio Grande do Sul, demanda, na maioria
das vezes, de custos operacionais. Em algumas cidades existe uma rubrica, dos
festejos farroupilhas, para a busca da chama. Então, alguns grupos se fecham
dentro daquela rubrica e não abrem para outros grupos irem junto buscar o
símbolo. Aí começam as discordâncias na cidade.
Em outras localidades, mais
organizadas, os municípios fecham com a coordenadoria regional, unem os grupos
de cavalgadas, tem uma equipe para prestação de contas, e todos viajam juntos.
Cabe lembrar ainda que alguns grupos simplesmente saem à cavalo pelo estado,
sem roteiro pré organizado, sem pousos determinados e sem avisar a policia
rodoviária sobre sua presença em determinadas rodovias.
A sugestão é que os grupos de
cavalgadas se unam dentro da região, façam um grande ordenamento de despesas,
organizem o trajeto antecipadamente, avisem as autoridades competentes, e façam
uma grande busca da chama. Lembrando que é sempre importante o espírito de
equipe, o bom senso e a camaradagem entre os cavaleiros e participantes.
O translado - As
bandeiras vão à frente. A chama logo depois delas. Quem leva a chama, ao
chegar, alcança o archote para alguém previamente definido que vai fazer o
acendimento do candeeiro. Esse ato é, normalmente, feito logo após o hino
nacional (quando for executado) e antes dos pronunciamentos (quando houver
pronunciamentos). Normalmente são três falas. É comum dar-se a palavra ao
comandante da cavalgada.
A ronda da chama
- A ronda não é estática, ela é móvel. A ronda também pode ser entendida como o
ato de trocar a chama de lugar a cada dia. A ela pode-se incluir uma serie de
atividades no entorno da chama.
A guarda da chama
- A guarda da chama é feita por uma ou duas pessoas que ficam paradas (no
estilo militar), normalmente de lança em punho. O ideal é que a guarda seja
feita durante as 24 horas, no entanto, se não houver movimento, pode ficar o
candeeiro sozinho, com o galpão fechado. Enquanto houver atividades ou se a
chama estiver em local aberto, a guarda é permanente. A troca de guarda deve
sempre ser feita com um breve cerimonial: A entrega da lança e, a troca de
lugar, deve ser feita de forma solene.
O cerimonial –
Escolher alguém com boa dicção e que planeje o cerimonial antes, lendo
bastante, para evitar se engasgar com as palavras na hora.
Ao abrir, ter
as informações do que está acontecendo, nominar as autoridades (da maior para a
menor), ter os hinos à mão, pronunciamentos sempre da menor, para a maior
autoridade (processo inverso a composição do dispositivo das autoridades).
A fala na troca de
guarda – Não existe uma fala padrão, por ser neste momento, uma situação
que envolve muito a emoção do que se está fazendo. Fizemos um levantamento, em
algumas regiões, buscando saber o que, normalmente, eles falam quando fazem a
troca de guarda, ou entregam a chama ao chegar no local determinado e, notamos
que depois de uma pequena reflexão da importância daquela cavalgada que buscou
a chama, ao entregar usa-se a parte final do solene juramento , utilizado em
posses:
“...entrego esta chama para
o fortalecimento das nossas tradições e maior honra e gloria da nossa sagrada querência e do povo gaúcho.”
– seguido de um forte “E viva o Rio Grande!”
A Chama Crioula e
seus acendimentos
2001 -
Guaíba, na fazenda de Gomes Jardim
2002 - Santa
Maria, no centro do estado
2003 -
Camaquã, na Chácara das Aguas Belas, de Barbosa Lessa
2004 -
Erechim, no Recanto dos Tauras
2005 -
Viamão, cidade fundamental na história do RS
2006 - São
Gabriel, na Sanga da Bica, onde tombou Sepé Tiarayú
2007 - São
Nicolau, 1ª redução e um dos 7 povos das missões
2008 - São
Leopoldo, Terra de Colonização Alemã
2009 - São
Lourenço, no casarão de Ana, irmã de Bento Gonçalves
2010 -
Itaqui, o acendimento volta para a fronteira
2011 -
Taquara, cinquentenário da Carta de Princípios
2012 -
Venancio Aires - Capital Nacional do Chimarrão
2013 -
General Câmara - Distrito Açoriano de Santo Amaro do Sul
2014 - Cruz
Alta - Terra de Erico Veríssimo
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