Trazendo este assunto a tona, no ano de 2013, nos proporciona a possibilidade de levarmos para as escolas, CTGs, e desfiles, de todo o nosso estado, um tema de grande reflexão da importância do estudo do imaginário.
Um ponto importante está na relação do mito com o imaginário social. As narrativas míticas seriam utilizadas pelos atores políticos como uma forma de promover a coesão social. Ao analisarmos a vinculação entre religiosidade humana e o imaginário social, são perceptíveis as diversas práticas utilizadas ao longo da história humana, que visaram legitimar as hierarquizações sociais através da aplicação do sagrado.
Os ritos cívicos, dentro dessa perspectiva, emergem como um mecanismo essencial para reforçar no imaginário social o poder da ordem vigente e as diferenças existentes na sociedade. O imaginário social passou a ser utilizado pelos positivistas para explicar o progresso da civilização e pelos marxistas nas interpretações dos imaginários sociais a partir das análises das ideologias.
A ideia é trabalhar a mitologia regional gaucha nas escolas e nos ctgs promovendo o teatro, produções de curtas metragens, que estimularão os jovens a produzirem muito mais sobre a nossa identidade, como as coreografias dos grupos de danças e os desfiles da semana farroupilha.
É a oportunidade de analisarmos a origem do gaúcho por outra ótica, que não as já apresentadas nos outros anos. Pelos mitos, lendas e contos podemos ver a origem e ainda “viajar” pelas batalhas e guerras que construíram esse ser, que hoje, definimos por gaúcho.
Rogério Bastos
Professor e comunicador
“Contos,
mitos e lendas do Rio Grande do Sul”
CARRO 1 – O imaginário – João Simoes Lopes
Neto
Utilizar João Simões Lopes Neto, escritor e empresário, como
representante literário do imaginário social do nosso estado. Neto nasceu em
Pelotas em 1865 e seus contos e lendas vieram a fazer sucesso depois de sua
morte. Depois de vários experimentos empresariais (cigarros marca Diabo,
fabrica de vidros, moagem de café, destilaria, etc...) encontrou-se
profissionalmente como escritor. Recolheu lendas, contos, criou personagens
lendários como Blau Nunes, o veterano vaqueano (baqueano – aquele que aponta o
caminho, guia) com estampa gaúcha, que é o guia dos caminhos pela pampa e pelos
contos de Simões Lopes.
CARRO 2 – LENDAS
A lenda do M Boitatá –
a cobra de fogo
Conta-se,
entre a gauchada das estâncias, que nos passeios e viagens à noite aparece um
fogo valente e às vezes em forma de cobra que, voa na frente dos cavaleiros,
impedindo que siga. Há crença entre a gente do campo de que, o Boitatá, se
deixa atrair pelo ferro. O meio para livrar-se do ataque consiste em desatar o
laço e arrastá-lo pela presilha. O Boitatá atraído pelo ferro da argola do laço
deixa o andante e segue atrás até amanhecer o dia. Na versão de Simões Lopes
Neto, a cobra de fogo identifica-se com a cobra-grande que se alimenta dos
olhos dos bichos.
CARRO 3 – LENDAS
A lenda do Negrinho do Pastoreio
A
lenda nasceu das lembranças dos campeiros, marcado pelo terror e crueldade,
misturada com o desejo de compensação e de desforço que devia vazar-se em forma
religiosa. Para seu transplante lendário concorreram vários fatores, desde
baixas formas de crendices, ainda visível nos dias de hoje, até a profunda
vibração de solidariedade humana que transformou símbolo de uma raça.
Simões
Lopes a estilizou, introduzindo no cenário, Nossa Senhora, a ser madrinha do
negrinho, madrinha dos que não tem, deu-lhe uma graça perfeita, mais luz. A
lenda do Negrinho do Pastoreio é genuinamente rio-grandense, nascido da
escravidão e refletindo o meio pastoril, o poder, e a religiosidade que é
associada aos outros tantos casos de escravos considerados mártires.
CARRO 4 - LENDAS
A Salamanca do Jarau
O palco da lenda é o Cerro do Jarau, formado por
uma cadeia de morros, que se destacam na paisagem do pampa gaúcho, no município
de Quaraí. Simões Lopes Neto desenvolveu o tema com elementos
que decorriam das superstições locais. Temos o sacristão dado às artes mágicas,
envolvido pela tentação. Aliados a este tema, a ocupação moura na Península
Ibérica, a princesa encantada, os tesouros escondidos apresentados na forma de
serpente, lagartixa, o carbúnculo ou teiniaguá dos
guaranis, elemento originário do novo mundo.
CARRO 5 – CONTOS
O Mate do João Cardoso
Os contos de João Simões Lopes Neto, sua linguagem,
representam a sensibilidade e um regionalismo espontâneo como exímio contador de
histórias. O Mate do “João Cardoso”, um dos mais populares contos de
Simões, destaca a tradição herdada dos
indígenas, a hospitalidade do mate na roda do chimarrão, bebida típica do
gaúcho, o convívio, solidariedade e a fraternidade do homem rural. Vai além,
mostra um período da história que os meios de comunicação eram escassos e as
novidades vinham pelos viajantes que passavam pelas terras, já tão pobre, mas
sem perder a hospitalidade tão típica do gaúcho. O convite era pra um mate, mas
que nunca chegava.
CARRO 6 – CONTOS - Trezentas
onças
Trezentas onças
Era verão, Blau Nunes viajava para comprar uma tropa de gado a
mando do patrão da estância. Muito quente, ele resolveu se banhar num arroio. Depois
de banhado, descansado, seguiu viagem.Quando chegou na estância, onde passaria
a noite, percebeu que havia esquecido a guaiaca próximo ao arroio. Deu meia
volta e voltou para buscar a guaiaca. No caminho cruzou por uma comitiva que ia
em direção à estância, mas não parou, estava com pressa. Ao chegar no local ela
não estava lá. O vivente pensou até em dar fim à vida, mas resolveu assumir
para o patrão que perdera o dinheiro. Voltou para a estância. Ao entrar, viu
sobre a mesa a sua guaiaca com as 300 onças ; havia sido encontrada pela comitiva
com quem cruzara pelo caminho, como se tratava de gente “boa”, a guaiaca foi
devolvida ao dono. Lembra-nos de honestidade, “fio de bigode”, confiança,
elementos presentes nos valores do gaúcho.
CARRO 7 – MITOS - LOBISOMEM E BRUXA
O mito lobisomem é a crença que determinados homens podem se transformar
em monstro, meio-lobo, meio-homem. O mito no RS leva o fado do sétimo filho
homem de uma família que será fatalmente lobisomem, a menos que seja batizado
pelo irmão mais velho. O mito da bruxa
no RS veio da Europa, mas nada tem haver com a bruxa de nariz comprido, com
chapéu montada na vassoura. É uma mulher bonita e má, sua grande arma é o “olho
grande”. Será bruxa a sétima filha do casal, quando não for interrompida por
varão e batizada pela primogênita, perde o fado. Crianças embruxadas ficam
amareladas, cruzam os braços e pernas. Quando aparece borboleta feia e preta
nas casas, de dia, acredita-se que é a bruxa e se previne com uma figa, arruda
e chifre.
CARRO 8 – CRENDICES E
SUPERSTIÇÕES
Em todas as épocas o homem sempre acreditou no sobrenatural,
sempre atribuiu a forças ocultas os fatos que fugiam ao seu conhecimento
científico, teve medo e procurou conhecer e dominar as forças.
As sobrevivências que fazem parte do nosso acervo cultural,
herdado de nossos antepassados, está o mundo mágico, povoado de crenças,
misticismo, rezas fortes, simpatias, promessas e como não poderia deixar de
ser, da vontade de manipular estas forças invisíveis. As origens das crendices
e superstições são tão antigas quanto o próprio homem. Crendice é aquilo que se
acredita e não teme, é sentimento de fé, convicção, simpatias, benzeduras.
A superstição é um sentimento baseado no temor e na
ignorância. Estão incluídos os ditos “não presta” (não presta fazer isso... por
que...). As superstições variam de pessoa para pessoa e lugar, por exemplo: Uma
das superstições mais conhecidas e difundidas que se conhece, está relacionado
ao número 13, Passar sob uma escada, jogar um punhado de terra na cova do
morto, gato preto dá azar, coruja piando próxima casa ou a sobrevoando dá azar.
CARRO 9 – CONTOS -
Chasque do Imperador
Blau Nunes narra os fatos de um ponto de vista muito próximo
do soberano Dom Pedro II, daquele que se tornou seu ajudante, seu estafeta
(Chasque). A narrativa predomina no espaço da pampa gaúcha, em que a tropa
comandada pelo Imperador se desloca, ora acampando, ora sendo recebida por
estancieiros da região. Ao ser oferecido, Blau não se julga apto a servir o
imperador.
Nesse universos vemos
as classes distintas: a vida árdua, dotada de poucas informações e de pouco
preparo social, que emerge na campanha sulina, e o homem da corte, pouco afeito
à vida campeira. Em determinado momento da narrativa, o comandante de uma das
tropas (Barão), junto ao imperador, termina fazendo a apologia das qualidades
gaúchas, sob o ponto de vista do narrador-personagem, a rusticidade, a coragem
e a virilidade do homem pampa gaúcho. Mais tarde o imperador encontra uma mulher, que após
perambular pelo acampamento, oferece ao soberano um preparo de requeijão, que
dava gosto de se ver e com um cheiro inigualável”. Na passagem, salienta-se, o
papel da mulher sul-rio-grandense nos confrontos bélicos que marcaram a Rio
Grande. Enquanto os homens seguiam para os campos de batalha, cabia-lhes
esperar e tocar a economia local.
A dualidade, que se forma neste universo da guerra, parece,
também, adquirir relevância, posto que a incumbência da luta caberá aos peões,
homens rudes, afeito às lides bélicas, enquanto o Imperador se manterá
protegido, distante do confronto, servindo apenas como um reforço ao moral das
tropas em combate. Faz-se importante
retomar os costumes, os hábitos gaúchos que a narrativa traz à cena: os
cuidados com os cavalos, o chimarrão, aspectos que, de certa forma, fazem eco
ao propósito narrativo de valorizar a vida campeira.
Contribuição: Professora Neusa Secchi
Vice presidente de Cultura do MTG
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